domingo, 4 de outubro de 2009

A rua

A rua era grande, de chão de terra. Possuía pequenas casas, de arquitetura simples com cores desbotadas. Típica de lugarejo, janelas grandes e portas estreitas. Quando Miguel se mudará de cidade. Aquela era a primeira imagem que ele se lembrava, dormirá a viagem inteira. Enquanto coçava os olhos sonolentos e trincados, percebeu no fim da rua um grupo de garotos que jogavam bola. O campo era formado por traves de tijolos e chinelos velhos. O grupo de garotos com cabelos ensebados e roupa surrada possuía uma única bola que tinha um formato oval e não tinha mais cor. A maior alegria de Miguel a partir de então era chegar do colégio, jogar os sapatos de lado, colocar a farda suja no cesto e esperar o almoço contando os segundos até que sua mãe deixa-se ele sair. A tarde era curta o bastante para todas as partidas que jogavam. Todas os dias faziam a mesma coisa, até que um novo morador chegou. Um garoto franzino que se chamava Túlio, morava na casa mais bonita da rua, os pais possuíam um mercado próximo dali. O garoto era dono de um objeto que acabaria dissipando todas as atenções do grupo. Tinha uma bola novinha, de couro macio que brilhava tanto quantos os olhos dos meninos que começaram a imaginar os jogos com ela. Túlio a partir de então não era somente o dono da bola, como o dono dos jogos, esses aconteciam quando ele desejava e só jogava quem ele permitia. O grupo começará a se dividir. Quem era amigo de quem. Dias tristes para Miguel, agora não tinha mais a correria, a espera aflita para chegar em casa. A rua não era mais a mesma, bem como os jogos.
Em uma das tardes, sentados no passeio de cimento assistindo o jogo que ficaram de fora os garotos privados do seu divertimento, tentavam se distrair, corriam e chutavam a terra, foi quando Miguel chutou um objeto pequeno e pontiagudo, um prego velho e enferrujado. Uma brilhante idéia lhe ocorreu, mais tarde posicionara o prego perto dos tijolos.
No dia seguinte esperou ansiosamente pelo jogo. Fingia parecer distraído, mantinha sempre os olhos vidrados no jogo, ou melhor, na bola. Até que o momento chegou e foi bem no momento em comemoravam um gol. A bola alcançou o prego, os garotos depois dos gritos viram a bola ir perdendo forma. O jogo acabou mais cedo. E quase que um luto temporário se instalou, até os que estavam de fora sentiram a perda.
A rua ficara silenciosa aquela tarde.
Foi quando alguém surgiu com a bola antiga, largaram o luto e voltaram a passar todas as tardes como antes: descalços na rua.

Postado por: Ellen Guerra

Um comentário:

  1. nada como as brincadeiras de rua, com os pé no chão para caracterizar a infância!!
    texto muito bom. :)

    ResponderExcluir