domingo, 4 de outubro de 2009

Aquele parecia ser mais um dos tantos finais de semana na roça do avô. Todas as coisas estavam arrumadas. Colchões, lanternas, almoço e todos os utensílios necessários para aquela viajem já tão conhecida dela.
Na ida, estranhara um pouco o caminho, sempre teve a impressão que aquele lugar era enorme. Quando o asfalto acabava e a estrada de terra começava o que pareciam sítios imensos agora saltavam aos seus olhos como lugarejos pequenos e tortos. Antigamente viam-se umas poucas casinhas e plantações grandes ao redor. Hoje existiam vendas, botecos e igrejas. O pior era ter que agüentar a poeira que levantava a medida que se aproximavam. Outra coisa que ela estranhara era como todo aquele asfalto que antes existia sumira.
Quando criança aprendeu a não fica perguntando: “Mãe, já chegou?”
A mãe lhe ensinou como saber se já estava próximo. Pouco antes da entrada do sítio existia uma pedra enorme, sempre se questionará como ela havia chegado ali. Entre o curral das cabras e o pequeno cemitério da família. Ela aprendeu a diferenciar a pedra porque tinha um formato estranho e engraçado. Parecia um cachorro, um cachorro imenso na verdade.
A chegada, essa nunca mudava. O avô ficava de pé ao lado do portão velho, usava sempre umas roupas surradas e encardidas, e tinha sempre um sorriso bonito. O seu avô era uma figura miúda e meio corcunda, vivera toda sua vida naquele lugar, as únicas viagens que fazia eram quando sua mulher inventava de pagar promessas na Lapa. Iam todos andando e as mulheres nos burros. Essas viagens rendiam ótimas histórias que passará quase toda infância ouvindo. Melhor que as histórias da Lapa, eram de João Grilo, um dos tantos cordéis que ele recitava sem esquecer nenhuma rima.
O segundo habitante do lugar, era um tio seu, o único filho que não foi viver na cidade. Esse ao contrário do avô nunca estava na porta, sempre que algum carro chegava, se escondia em algum canto. Só aparecia depois de umas horas, quando todos estavam alojados. O tio tinha cabeça meio fraca. Contava histórias irreais e jurava de pés juntos que tudo aquilo acontecia ali. Quando não era o ouro vivo que mudava de lugar eram os seres que dizia morar também na roça. Mas o tio possuía uma estranha lucidez em alguns momentos, falava com precisão e tinha uma consciência de si. Ele sempre foi uma incógnita para ela.
Era o tio que a ajudava com uma das coisas favoritas daquele lugar. “Catar umbu”, entre dezembro e janeiro, época que os umbuzeiros ficavam cheios, sentava debaixo daquelas árvores velhas, que sua mãe havia dado nome e conseguia diferenciar cada uma pelo sabor. A graça era comer ali mesmo, ela sempre ficava mais tempo que todo mundo ali sentada. Em parte pela companhia do tio, outras pelo sossego mesmo. Os primos e irmãos não viam muita graça em ficar ali parados, iam para rio ou ver os bichos.
Ela que dizia sempre ser mais ligadas as pessoas que os lugares, preferia não correr atrás das “atrações”, ficava sempre por perto do avô e do tio. Aquele costume, nunca mudava com os anos.



Postado por Ellen Guerra

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