domingo, 13 de setembro de 2009

Um novo mundo

Dia 8 de agosto seria o dia "D". Seria o dia de minha viagem. Para muitos a viagem podia ser simplesmente para cursar uma universidade, mas para mim significava mudanças radicais e aprendizados mil. Às 16h já estava no ônibus, olhando cada movimento das pessoas que estavam na rodoviária, em especial duas delas, que eram a minha mãe e o meu namorado. Quando o motorista buzinou sinalizando que o ônibus estava prestes a seguir o seu destino, comecei a exergá-los de forma embaçada, porque as lágrimas não cessavam.
No fundo o que me confortava era somente o fato de saber que o sucesso implica em renúncias e que aquilo era necessário.
As 14 horas de viagem foram suficientes para criar muitas expectativas. A viagem durou uma eternidade. A ansiedade era tanta que eu não consegui dormir. Cheguei em Juazeiro às 5 horas da manhã. Desci do ônibus pisando em nuvens. Era como se eu estivesse no melhor lugar do mundo. Gostei de tudo: do ar, das pessoas, do local. O horário avançava enquanto eu me debruçava em muitos pensamentos. Pedi que um táxi me levasse até o pensionato em que eu iria morar e, com os olhos de uma criança, observavei atentamente cada detalhe das ruas que passamos. Ao abrir a porta do pensionato ela já estava lá me aguardando. Senti um ar maternal naquela senhora que aparentava ter seus 55 anos. Não hesitei em abraçá-la por alguns segundos. Sorridente ela me levou ao quarto em que eu iria dormir dali em diante. Não tinha o conforto que o meu lá em Ilhéus tinha, mas me pareceu muito aconchegante. Arrumei rapidamente as roupas no guarda-roupa e segui para a cozinha, atraída pelo delicioso cheiro da comida. Conversamos e sorrimos a manhã toda. Sentia-me em casa já.Lembro-me como hoje das palavras ditas ao final daquela primeira longa conversa: "Meus filhos já estão todos casados, minha filha. Não ligue se eu me comportar como sua mãe".
Tomei um banho e fui almoçar. Surpreendentemente, as refeições eram as únicas oportunidades de todos os "filhos" de dona Matilde se encontrarem, porque todos estudavam e/ou trabalhavam. Conheci os meus dez "irmãos": Natalício, Ronaldo, Rodrigo, Fagner, Luís, Alexandre, Pedro, Jurandyr, Leandro e Daniel.
Todos muito receptivos.
Após o almoço fui cochilar um pouco e só não perdi o horário da aula, porque dona Matilde me acordou.
Rodrigo me acompanhou até a universidade. No caminho, conversamos bastante. Ele me inspirou confiança e por isso contei-lhe muitas de minhas histórias engraçadas. Senti-me realizada ao ver o sorriso nos lábios daquele que em poucas palavras conseguiu me conquistar. Acho que o carinho foi recíproco.
O primeiro dia de aula foi maravilhoso. O professor fez várias dinâmicas com a turma e ao final delas tínhamos a impressão de que já nos conhecíamos a anos. A integração da turma foi ótima.
Às 18 horas, quando saí, Rodrigo já estava lá para voltarmos para o pensionato.
O cheiro da janta nos atraía de longe. Benditas mãos de fada que dona Matilde tinha.
Jantei, assisti tv na sala com os meninos e às 22 horas fui para o quarto. Estava cansada, afinal, a viagem tinha sido longa e os 5 minutos de cochilo depois do almoço insuficientes para o completo descanso físico.
Dormir naquela hora seria uma mera ilusão. Eu me conhecia e sabia que a intensidade dos momentos vividos naquele dia mereciam, por obrigação, serem lembrados e relembrados antes do sono. Meus 19 anos de vida passavam quase que por completos em minha mente como um filme. recapitulei-os até quando o cansaço me tomou conta e lentamente me levou aos braços de Morphel.

Postado por: Carina Garcia

2 comentários:

  1. Lindo texto!! sua escrita é muito boa!! Você consegue conciliar a subjetividade com os elementos da realidade muito bem!
    por momentos relembrei quando sai de casa para morar em Conquista!!
    Parabénssss :)

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