domingo, 13 de setembro de 2009

Des(Cobertas)

Aquele parecia ser mais um dia comum. Tinha acordado cedo, naquele frio horroroso e com a empolgação dos primeiros meses de caloura não queria perder nenhuma aula. No meio da arrumação uma dor nas costas começou a incomodá-la, mas acreditou que era algo passageiro e logo estaria disposta. Só que a dor insistia. Lá fora o dia cinza, frio e chuvoso, só ajudava para que a cama fosse a melhor opção. Nada de extraordinário até então. Aqueles dois últimos meses longe de casa pareciam bem maiores, e ela andava evitando pensar no que acontecia. Era uma realidade que incomodava, não sabia ao certo o que havia ficado para trás. Uma manhã inteira em casa acabaria dissipando seus pensamentos para outros cantos. Começava a se questionar do que de fato ela sentia falta: da casa, do cachorro, da família, do calor, da bagunça. Não sabia ao certo. Passou a manhã debaixo daqueles cobertores, ouvindo o barulho da chuva, lendo Tomates Verdes Fritos e pensamentos avulsos em blogs. Naquele ponto do dia não sabia se foi a dor nas costas ou na barriga que a impediu de sair. Não sabia mais se havia dor. Entre uma leitura e outra acabou descobrindo a resposta numa fábula comum sobre uma mulher, uma rã e um beija-flor: “Teve saudades de árvores e de odes e de certa tarde tão feliz. Eram, afinal, saudades dela mesma, concluiu”. De repente percebeu que poderia ter chegado àquela conclusão através de uma auto-reflexão. Saber daquilo por meio de uma outra fonte trouxe a tona a idéia do quão frágil e perturbada ela se encontrava naquele momento.

A realidade latente era: “ela havia ficado para trás” e agora tinha uma imensa dificuldade de aceitar o “novo” criado por e para ela. Aquele era o dia de buscar entender que a sua vida estava trilhando caminhos diferentes dos percorridos até então. Na ausência do almoço e o início de tarde, ela aprendia silenciosamente.


Postado por: Ellen Guerra

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